Simplesmente lindo, como a mais bela amizade

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domingo, 29 de maio de 2011

Origem das orelhas grandes da Candimba

Em Mato Grosso o nome Candimba é dado pra uma espécie de coelho do mato. Ela é bastante vista no cerrado e a história a seguir pertence a cultura regional da baixada Cuiabana. Essa história está em minha familia a um bom tempo, talvez vocês a conheçam com outro personagem ou a mesma história pertencente ao nosso folclore.





Era uma vez a muito e muito tempo atrás, na época em que os bichos podiam falar…

Existia na mata um animal pequenininho, tão pequenino que tudo nele era pequeno: patas, pernas, corpo, orelhas, focinho… Ele via a outros animais e queria ser como eles, queria ser tão grande quanto a sucuri, tão esperta quanto a onça e tão bonita quanto o bando de passarinhos que viam pousar embaixo do aguaçuzeiro, no meio da mata.

Ela procurava de todos os modos poder chegar a ser isso, mas a bichinha se esforçava e se esforçava e nada. A única coisa em que realmente era boa era em dar saltos e correr.

Um dia, cansada de não conseguir o que tanto sonhava ela decide ir a presença de nosso Senhor.

“Ele pode ao menos me fazer grande, porque aí eu posso fazer os outros animais correrem de medo de mim e a onça para de me caçar…” Ela pensava feliz.

Quando se viu na presença de nosso senhor ela disse:

- Nosso senhor, o senhor sabeis que sou pequenina, que não sou grande como a sucuri do rio, esperta como a onça ou bonito como os periquitos do aguaçuzeiro… - ela disse num tum que seria humilde – Mas, eu não me importo com beleza ou esperteza, queria ser grande, pra que os outros animais não me deeem medo.

Nosso Senhor ponderou e pensou, olhando aquela pequena criaturinha aflita, por fim lhe disse.

- Eu te dou tamanho. Mas primeiro você tem que me trazer a sucuri amarrada pra mim.

A candimba pensou e pensou aflita. Como conseguiria trazer a Sucuri, que era enorme, forte e que podia matá-la sem o menor esforço se quisesse? Ela que era tão pequenininha… Por fim se resignou, se esse era o preço pra ficar grande ela iria fazer…

- Eu a trago amanhã bem cedo.

E com isso partiu de volta a casa. Ia passando pelo caminho quando viu um bando de taquarazais enrolados com cipós. Era isso, pensou feliz.

Arrastando com grande esforço uma taquara enorme com um bom punhado de cipós foi para a beira do rio.

A sucuri estava tomando banho de sol na margem.

- Ah Dá! Não não dá... Mas será que dá? – Ela dizia passando a pata na orelhinha e olhando pensativa para a taquara e os cipós ali na margem. – Dá. Não dá. Dá sim. Mas… Será?

E continuou com aquela cantiga por um tempo, até que a Sucuri curiosa com aquela conversa solitária da candimba, não se aguentando em si perguntou:

- O que que dá Candimba?

- Bobagem minha, acho que não dá não.

- O que que não dá? – ela disse extremamente curiosa.

- Sabe o que é dona Sucuri, acho que a senhora não é grande como essa taquara. A Lebre que me disse que sim e eu disse que a senhora é mais pequena.

A Sucuri cheia de si pelo seu grande tamanho caiu na armadilha da bichinha.

- Eu digo que sou muito maior que qualquer taquara dessa mata.

E foi se colocar ao lado da taquara.

- Sabe o que é dona Sucuri – ela disse sabida – Tenho que amarrar a senhora pra esticar bem e não dar erro.

A sucuri deixou-a desse jeito sem problemas e la foi ela levar a ludibriada sucuri na presença de nosso Senhor. Ele olhou curioso a cena, a sucuri estava muito brava e toda amarrada na taquara.

- Aqui está Nosso Senhor, agora quero ser grande.

- Calma Candimba, tens que me fazer mais outra tarefa. Tens que trazer leite de Dona Leoa.

Dona Leoa era como era conhecida a onça pela mata. A danada tinha acabado de ter uma ninhada de oncinhas e não era esperto chegar perto da mãezona feliz.

A Candimba engoliu em seco. E agora? O que faria?

- Tá, eu trago.

E saindo foi pra casa pensando.

Passaram alguns dias até que ela teve enfim a idéia. Pegou o copo e os cipós e foi para perto da casa de Dona Leoa.

- Me marraaAA primeiro! Ah me MARRAAA PRIMEIRO! – Ela dizia a plenos pulmões em uma vozinha desesperada. – Me Marra primeiro, me MarrAA…

A onça preocupada com a cria foi ver que desespero era aquele. Nenhum animalzinho chegava perto o suficiente dela, era pedir pra ser o seu almoço.

- Que foi Candimba?

- Ah dona Leoa, me marra primeiro – dizia correndo de um lado pra outro com o cipó na boca. – Me marra primeiro.

- Marrar?

- Vem vindo uma tempestade que vai levar todos os animais com o vento. Me marra dona onça nessa árvore grande. Me marra!

- Não dona Candimba, me marre a senhora primeiro, não quero que o vento me leve – A onça disse caindo no falso desespero da Candimba.

- Não dona Leoa, me marre a senhora primeiro.

- Ora, se a senhora não me amarrar eu é que vou matar a senhora – A onça disse esperta para que a Candimba a amarrasse.
Ela obedientemente a amarrou bem apertado com o cipó e tirou o leite da onça, deixando a matreira ali de castigo no sol enquanto levava o leite pra nosso senhor.

- Aqui nosso Senhor! – ela disse feliz consigo mesma.

Nosso Senhor sorriu com a danadinha, mas ainda havia mais uma coisa.

- Tens ainda que me fazer mais uma tarefa.

- Mas.. Eu já fiz tudo – a bichinha dizia inconformada.

- É a última tarefa Candimba. – ela assentiu conformada – Quero que encha essa gaiola de periquitos.

Nosso Senhor entregou uma gaiola três vezes maior que a Candimba e esta levou, arrastando, empurrando com muito esforço até o pé do aguaçuzeiro.

Ficou ali embaixo esperando que anoitecesse e o bando de periquitos viesse dormir.

Não tardou e ao anoitecer os periquitos chegaram fazendo algazarra e festa no ninho para passar a noite.

- Ahh não enche... Enche! Não, não dá. Mas será?...

Ela começou a conhecida cantiga que pegara a sucuri. Os periquitos muito curiosos como ele previra vieram perguntar o que era aquilo.

- É que eu disse pra dona Leoa que todos os periquitos do aguaçuzeiro não encheriam a gaiola. Eu acho que ganhei a aposta – ela dizia contente.

- É claro que enchemos – os bichinhos retrucavam – Além de belos somos muitos.

- Eu acho que não…

E dizendo isso o bando de periquitos danou a entrar pela portinha, não couberam periquitos e a Candimba feliz fechou a gaiola e foi caindo e levantando pelo caminho levar os periquitos para Nosso Senhor.

- Está aqui Nosso Senhor, quero ser grande agora.

Nosso senhor admirado da esperteza de um bichinho tão pequeno diz:

- Tome Vergonha Dona Candimba, se a senhora pequenininha desse jeito é capaz de aprontar desse jeito, imagina se eu lhe der altura!

E ralhando puxou as duas orelhas da candimba e a mandou embora.

É por isso que a candimbá é pequenininha e com um orelhão. Por que foi castigada por nosso Senhor por querer demais.

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