Simplesmente lindo, como a mais bela amizade

Simplesmente lindo, como a mais bela amizade

domingo, 29 de maio de 2011

Ventania de outono... IV





Quinta, Maio de 2106

Querido Jona,

As horas demoram a passar. Como um pêndulo a balangar, a zombar de algo que foge das mãos… 
As folhas começam a cair… Ouço agora o som do seu mover lá fora, a brisa quente e inoportuna… O barulho inquietante do sopro de vida que reina por aqui.
Meus olhos estão cansados, como se eu fosse cair de repente. E cada vez mais distante, me levo até o lugar de onde vem sua voz.
É tão estranho e insignificante, que mesmo por meros instantes me transporto até a você… Até onde eu sei que jamais irei alcançar. 
Meu querido Jona, como queria neste momento saber como está… Te alentar, apenas ficar mudo… Ao seu lado mesmo invisivelmente… 
É grande a minha desolação, a minha alegria, a minha confusão interior… Que cada vez que o vento canta, eu quase posso tocar a você… 
Jona, como é suave e melodioso a tua pronuncia. Sonho contigo a cada noite escura, te vejo sempre ao amanhecer de cada sol. Me perco contigo a cada pôr do sol entre as nuvens… 
Jona, meu anjo, meu amigo…
Não se preocupeis por isso, sabes e entendes bem o que quero dizer. 
Amanhã é sempre um novo raiar e findar de um novo dia
É sempre um novo ciclo, um novo recomeço, uma nova chance…
Sempre um novo fim…
Sempre,

Mah

Ventania de outono... III





Sábado, maio de 2010

Querido Jona,


Tem vezes em nosso caminho, em que queriamos poder viajar pelo tempo. Retonar a cada estação já visitada e reviver aquele momento.

Existem paradas no meio do caminho, em que se encanta pela paisagem de fora. Em que se deixam lágrimas rolarem pela face. Em que se quer ficar, deixar-se perder naquele sentimento. Sai-se a noite com o céu estrelado; com nada a se ver ao redor em meio a escuridão. Vivendo o dilema do esperar, do voltar para trás. Sem contudo reparar na surpresa maravilhosa a sua frente.

Tem vezes em que temos medo do que não podemos ver. E tantas vezes em que nos julgamos corajosos e nos perdemos por ser orgulhosos demais para pedir socorro. Embrenhamos caminho adentro na escuridão julgando ver o que não há para ser visto. Nos perdemos em meio ao passo certo a que nos confiamos.

O tempo… Aprendemos com o tempo, aprendemos a lutar por cada segundo, ele nos ensina quão poderoso pode ser a nosso favor e o quão impossivel é tentar rumar contra ele. Parecem que fazem anos que nos perdemos por ele. E mesmo com o passar dos anos, ele continua o mesmo.

Descobri durante esse tempo, que de nada adianta correr contra ele… Que é mais sábio esperar o momento certo, de certa forma deixar-se levar com ele.

Querido Jona, começo a sentir saudades. Saudades de um correspondente invisivel… Eu sei, não se sente saudades do que não se vê… Vês como o tempo, assim como ele, sentimentos não se entendem, apenas nos guiam por caminhos que nossa razão desconhece…

A felicidade as vezes não dependem de nossas ações, ou cálculos e quiçá de nossa irredutivel razão… Felicidade é um estado de espirito, depende apenas de acreditar ou não… Sinto que o tempo ensina quem sabe o esperar, quem sabe que o passar dos anos não anuncia o fim, que é apenas o começo de uma nova jornada, que tudo tem seu tempo e o seu fim…

Querido amigo, querido companheiro, querido e fiel tempo… Não há surpresas em se negar, não há vacilação em não acreditar. Não há surpresas inesperadas, ou passos em falso, negação…

Acho que falei mais do que devia, mas… De certa forma isso é o que sinto nesta noite quando olhava o céu estrelado, a observar a maior estrela a meu oeste… São apenas divagações, pedaços de frases que não querem nada dizer e que mesmo assim revelam tudo de mim… Espero que…

Não! Eu não espero. Fique com o céu a noite, saia a sua janela e observe a mesma estrela, eu sei, é maluco, mas pelo menos é algo que podemos fazer juntos…

Com saudades,

Mah

Ventania de outono... II

No outono que as folhas se perdem, como folhas arrancadas de um caderno, elas se vão como cartas, palavras, flechas... brincando com o vento... embalando por seu tempo a mesma sinfonia...


Domingo, maio de 2020
Querido Jona...

O dia está sombrio… o engraçado é que eu preferiria um céu a zombar, a se vestir de cinza… O sol brilha majestoso no céu azul sem nuvens. São apenas 10 da manhã e a natureza chama convidativa… o rio luze um verde cristalino, no fundo do seu leito pedras de todas as tonalidades, pequenas pedras, redondas, chatas, de cores e formatos diferentes… e os peixes a nadar em sua singular dança. A brisa refresca o dia morno e os buritis fazem sombra a sua margem…

Longe daqui canta um pássaro. Um canto triste que parece destoar da sua beleza, como se ele chamasse por alguém que não vai mais voltar…

O silêncio que reina em volta é apenas quebrado pelo burburinho da correnteza e o som do vento que traz a melodia…

Você já parou sem motivo algum, apenas para escutar o que há a sua volta?

Sempre dizemos que a vida continua apesar de tudo. Apesar de dor, de perdas, de derrotas, de frustações… Que devemos ser fortes, que não podemos nos deixar levar pela dor. Que não podemos nos deixar guiar por ela. Quem foi esse sábio que disse isso?

Será que ele também passara por algo assim?

É tão fácil nos dizer para parar, para continuar, para seguir em frente. Dizer que ser amigo é estar junto, que devemos sorrir sempre… Que devemos sempre ver o lado bom das coisas. Que não podemos nos guiar pelos sentimentos, que devemos ser racionais.

Quão tolo quem diz isso parece.

Provavelmente nunca passou pela dor. Nunca sofreu ou perdeu algo realmente. Nos deixamos guiar pelo que sentimos. E pra onde vai a razão?

Vai para algum lugar, até quando já sofremos o bastante e nos permitimos seguir em frente. Ou até quando alguém se senta ao nosso lado, sem nada nos dizer, e apenas nos dá a sua mão…

Existe um tempo para tudo. Esse pássaro a cantar, ele cantou por tanto tempo… parecia que a natureza parou o que estivesse fazendo para escutar o doce lamento. Não sei quanto tempo eu fiquei aqui a apenas escutar… Sei que a melodia triste foi se afastando pouco a pouco, até que já não se ouvia nada, a não ser o burburinho da água a minha frente…

Sabe, tem vezes que não encontramos razão no que vivemos. Que a esperança é a única coisa que realmente parece fazer sentido. Que parece valer a pena. Viver de esperança, ou viver com esperança?

Veja aquele passarinho, ele talvez tivesse a esperança de que seu canto trouxesse algo de volta a ele. Mas ele alçoou voo, ele simplesmente decidiu continuar.

Talvez ele volte aquele mesmo galho a cantar de vez em quando. Mas ele partiu.

Ele vive com esperança. Talvez a esperança seja aquilo que nos permite viver quando estamos atravessando a dor. Talvez seja ela que nos leve a dar nossa mão a alguém, a permitir que alguém nos ajude. A esperança é aquilo que de certa maneira nos mantém em pé. A crença que um dia ruim é apenas isso. Que amanhã sempre é um novo dia. Que nada está tão errado a ponto de não haver mais conserto, ou que possa de alguma forma ser substituido, que não possa ser guardado por nós mesmos…

Viver com esperança…

Sempre saudades,

Mah

Ventania de outono... I



Querido Jona
Gostarias desse dia
O azul a alegrar as cores
E a amenidade que tras o suave balangar das copas das árvores

Chove ventania sobre a tarde
As folhas correm pelo chão
Se perdem sentidos em meio a confusão
E muito se escuta o riso por onde se passa

O sol brinca luminoso no céu
Como pontos de tinta sobre o papel
Iluminando o dia, a rasgar o céu
Flutuando em brumas sobre a pele

Anjo, ao ver o sol despontar a tarde
Fecho meus braços a me encolher
A desejar, a enternecer
A beber os murmúrios que de ti me lembro

Queria poder
Ousar chamar-te por teu nome
Meu consolo, meu encanto
E a ti de braços abertos poder correr

Jona, amigo
Se lembra de nossas confusões, das risadas, das discussoes?
Dos passeios e tantos dias perdidos
E que a muito ficou para trá?

Sinto saudades
No passado a doce angustia
De um amanhã incerto como esta ventania
No hoje a te escrever silenciosamente

jona, espero que o tempo seja bom para ti
Que te leve a flutuar com ele
Que te mostre a beleza de seu jardim
E que um dia me mostre o quão belo o que cultivei se tornou….

Tens coragem?



Dizer, palavras qualquer um as diz…
Fazer, mostrar o que diz, o provar
Tem coragem o suficente para o tentar?

Pular, se jogar, atirar-se ao esmo
Correr adrenalina, injetar-se a si mesmo com a droga
Perder-se em meio ao próprio suspiro…
Abrir bem os olhos para encarar o que se auto editou

São tantos os sentir, são poucos os pensar
Muitos e malfeitos viveres…
Suspiros, sussurros, cancionantes ao burburinho que corre solto

Opniões, divergências, desafios
Formam o fio que sedoso e vistoso chama a atenção
Mas que com o primeiro gato
Se forma em balaio a ainda intrigar quem o vê

Onde está a corda a que amarraste a própria verdade?
A ancora em que baseia as coisas que diz
O muro em que construiu a própria existência?

São tantos os que, os porques e os para ques
Que perdido se fica ao tentar se autoentender
Restando para o fim apenas metades de verdades
Fantasias com as quais consegues sobreviver, sempre um dia por vez…

Ritos



Ao levantar pela manhã
Coloque os dois pés ao chão
Abra os olhos e observe a luz que se filtra pelo cortinado
Caminhe lentamente em direção a elas…

Observe atentamente, cada mudança ocorrida
Marque mentalmente
Apenas que sensação teve
E então, vá começar o seu dia

Abra a porta de maneira suave
Abra seu melhor sorriso
Encontre em si mesmo
Somente aquilo que quereis para si

Diga bom dia
Em seu mais terrivel dia
Seja terno, tenha palavras gentis
Mesmo em momentos tão amargos!

Seja o primeiro a chegar
Seja o primeiro sorriso a se abrir
Seja a primeira mão a se estender
Seja o último fio a se romper…

Seja aquilo que sempre sonhou
Seja aquilo que sempre acreditou existir
Quando pensar que é impossível
O prove para si mesmo!

Quando tiver tudo para dar errado
Quando tudo for desabar
Ao invés de esperar desmoronar
Chute a viga que ainda segura e corra para ver o que aconteceu

E quando nada restar
Ainda há aquilo que sempre esta com você
Agarre-se a ela
E reconstrua tudo outra vez…

Eu queria...



Eu queria poder me perder em seu olhar
Ser o motivo pelo qual o sorriso se espalha pela sua face
Poder tocar-te a face em momentos precisos
Trazendo brilho novamente ao meu olhar

Eu fecho meus olhos devagar
Sabendo que sua imagem se projeta em minha mente
Mesmo no escuro breu do olhar
Tocando-te no silêncio, sem movimentos...

Sinto as batidas de vida
Que brotam dentro de mim
Sinto as lágrimas rolarem pela face
Abro meu sorriso em meio ao solitário sentimento que me inunda

Visto as vestes que erroneamente
Escolhi por acaso premeditado em meu armário
Colocá-las para então ir em direção ao patamar
Que tanto custou-me a encontrar

Eu te abro meu maior sorriso
Despedaçando-me em pequeninos cacos por dentro
Eu te mostro meu eu escondido
Porque eu sei que é minha única oportunidade

Caminho contando meus passos em sua direção
E pequenas gotas começam do céu a cair
Desmanchando o que tanto demorei a construir
Me fazendo ir para longe, me afastando cada vez mais de ti

Hoje no escuro, não sei o que fazer
Diga-me alguém o que se passa comigo?
Me ajude a entender o que se passa dentro de mim
Porque a compreensão já abandonou o meu ser

Eu me perdi em meio ao escuro de palavras sem sentido
Me deixei levar com a leve correnteza
São palavras que brotam em mim tão sem sentido
Temo que amaldiçoada pelo seu feitiço eu talvez esteja

Por palavras, simples, abstratas e meras palavras
Que estranhamente me impregnaram a alma
Que desavisadamente, sem me pedir permissões
Sempre levam o meu coração à você!

Ventos





O vento frio do sul balança lentamente os seus galhos
Trazendo um cheiro diferente ao ar
Lançando suas folhas ao chão
Levando para longe o que com tanto zelo cuidou

A brisa cálida te trás novidades
Se abre em leque sobre sua copa
Ela trás a receita mágica
Que te fáras sorrir

Ela te mostras a razão de tanta espera
Ela dá brilho a teus galhos, música ao teu suave balangar
Cheiros e sabores as tuas criações
Esperança a tua jornada solitária

Ela trás tantas mudanças
Que mal vês que o tempo corre contra ti
Que o vento norte vem a toda
Cada dia mais perto separando-o de ti

São pequeninos resquícios de recordações
Que se enraizaram em ti
Lembrando-te que possa voltar
Que nada no tempo dura indefinidamente

Mas como em tantas outras vezes
Sabes bem que cada folha levada pelo vento
É única e não volta para ti
Ela deixa marcas, mas apesar de serem as mesmas correntes, é sempre novidade.

Se deixa desnudar mais uma vez
Se perdem para sempre coisas guardadas com amor
E mesmo sabendo que sempre se ganha ao perder
É dificil ainda o desprender

E se volta assim a aceitar
O destino que tanto e nada teme
Sabendo que cada folha levada é um dia reposta
E cada novo raiar e findar de um dia é sempre um novo recomeço

Palavras ao vento...




Nada do que eu possa fazer irá concertar
Não há maneiras de recolocar cada caco em seu lugar
Estou limitada por minhas próprias ações
Eu só queria poder manda-las de volta...

Não há como apagá-las
Não consigo traze-las de volta
E apesar de não conseguir pega-las
Elas voltam para mim com toda e mais força do que quando as lancei

Me sento sob o gramado
O céu esta estrelado, luzindo em meio ao silêncio
Elas estão brilhando na escuridão
Como se zombassem, sabendo de algo que não irão me dizer

Elas me dão um banho de gelo
Me levam tudo o que eu cuidadosamente construi
Elas me tiram tudo
Me deixam sem ter onde me esconder

Eu faço minha prece muda
Sei bem que sem alento
De que de alguma forma voltem
Que parem de ricochetear em mim, que elas tenham o seu fim…

Eu sei, momentos não voltam
Minutos, segundos, milésimos se vão
Como relâmpago que cruza o céu
Como a decadência de sentimentos momentâneos

Atire, lance, mas pense bem
Não cometa enganos, seja firme
Não fuja a consequências
As aguente em pé, apenas as aceite…

Desmoronar sob o céu azul
Pintar com cores diferentes ao arco íris
Transformar-se em metamorfose
Alçar o voo que incendeia a tua alma

Não existem remorsos em decisões
Não existem chances nas suas impressões
Não hão de haver remédio
Que curem o que só a própria ferida pode cicatrizar

Não volte, se vá
Não as quero de volta
Se vão com o mesmo vento que te trouxe
Me deixem em meu próprio silencio

Me dêem respostas
Não impressões
Me mostrem o que é real
Qual a tênue linha que nos difere ao fim?

Verdades e ilusões




Tudo sou eu
Já me esqueci até mesmo das outras flexões
Tudo se resume a mim
Ao que eu acho melhor

Não existem laços
Finitas ilusões
Tudo se resume ao que eu sou
E ao que posso fazer por mim mesmo

Não existem verdades
Tudo o que existe são maneiras de ocultar
Tudo o que existem são falhas
Maneiras erradas de se chegar a perfeição

Amigos são apenas pilares
Degraus que nos ajudam a galgar o posto mais alto
Pessoas que precisamos
Quando estamos no escuro e nada vemos

Amores são ilusões
Não se ama sem tocar
Sem ver
Sem deixar se conhecer, sem autorizar, sem permitir que te vejam...

Palavras são peculiariedades
Coisas jogadas fora e que nada representam
Sentimentos se resumem a ações
As palavras são vazias, elas são falsas, não dê creditos a elas!

Paixões são coisas que devem ser vividas
Levadas até as ultimas conseqüências
Morrer por que sou apaixonada pela sua beleza
Viver porque todo mundo te admira

Caminhar sempre em frente
Pise em cacos, faça cacos, os pule!
Suba cada vez mais alto
Escancare-se após, você pode sorrir, você conseguiu..

Lute, não meça esforços
Dissimule, faça o que precisar
Fuja, não se prenda, todos querem enganar você...
Tenha cautela, esteja sempre alerta, cuidado com as rasteiras

Não chore ao fim
Seja forte!
Quando se voltar para trás, apenas diga:
Isso foi tudo o que sempre sonhei, e eu consegui…

Origem das orelhas grandes da Candimba

Em Mato Grosso o nome Candimba é dado pra uma espécie de coelho do mato. Ela é bastante vista no cerrado e a história a seguir pertence a cultura regional da baixada Cuiabana. Essa história está em minha familia a um bom tempo, talvez vocês a conheçam com outro personagem ou a mesma história pertencente ao nosso folclore.





Era uma vez a muito e muito tempo atrás, na época em que os bichos podiam falar…

Existia na mata um animal pequenininho, tão pequenino que tudo nele era pequeno: patas, pernas, corpo, orelhas, focinho… Ele via a outros animais e queria ser como eles, queria ser tão grande quanto a sucuri, tão esperta quanto a onça e tão bonita quanto o bando de passarinhos que viam pousar embaixo do aguaçuzeiro, no meio da mata.

Ela procurava de todos os modos poder chegar a ser isso, mas a bichinha se esforçava e se esforçava e nada. A única coisa em que realmente era boa era em dar saltos e correr.

Um dia, cansada de não conseguir o que tanto sonhava ela decide ir a presença de nosso Senhor.

“Ele pode ao menos me fazer grande, porque aí eu posso fazer os outros animais correrem de medo de mim e a onça para de me caçar…” Ela pensava feliz.

Quando se viu na presença de nosso senhor ela disse:

- Nosso senhor, o senhor sabeis que sou pequenina, que não sou grande como a sucuri do rio, esperta como a onça ou bonito como os periquitos do aguaçuzeiro… - ela disse num tum que seria humilde – Mas, eu não me importo com beleza ou esperteza, queria ser grande, pra que os outros animais não me deeem medo.

Nosso Senhor ponderou e pensou, olhando aquela pequena criaturinha aflita, por fim lhe disse.

- Eu te dou tamanho. Mas primeiro você tem que me trazer a sucuri amarrada pra mim.

A candimba pensou e pensou aflita. Como conseguiria trazer a Sucuri, que era enorme, forte e que podia matá-la sem o menor esforço se quisesse? Ela que era tão pequenininha… Por fim se resignou, se esse era o preço pra ficar grande ela iria fazer…

- Eu a trago amanhã bem cedo.

E com isso partiu de volta a casa. Ia passando pelo caminho quando viu um bando de taquarazais enrolados com cipós. Era isso, pensou feliz.

Arrastando com grande esforço uma taquara enorme com um bom punhado de cipós foi para a beira do rio.

A sucuri estava tomando banho de sol na margem.

- Ah Dá! Não não dá... Mas será que dá? – Ela dizia passando a pata na orelhinha e olhando pensativa para a taquara e os cipós ali na margem. – Dá. Não dá. Dá sim. Mas… Será?

E continuou com aquela cantiga por um tempo, até que a Sucuri curiosa com aquela conversa solitária da candimba, não se aguentando em si perguntou:

- O que que dá Candimba?

- Bobagem minha, acho que não dá não.

- O que que não dá? – ela disse extremamente curiosa.

- Sabe o que é dona Sucuri, acho que a senhora não é grande como essa taquara. A Lebre que me disse que sim e eu disse que a senhora é mais pequena.

A Sucuri cheia de si pelo seu grande tamanho caiu na armadilha da bichinha.

- Eu digo que sou muito maior que qualquer taquara dessa mata.

E foi se colocar ao lado da taquara.

- Sabe o que é dona Sucuri – ela disse sabida – Tenho que amarrar a senhora pra esticar bem e não dar erro.

A sucuri deixou-a desse jeito sem problemas e la foi ela levar a ludibriada sucuri na presença de nosso Senhor. Ele olhou curioso a cena, a sucuri estava muito brava e toda amarrada na taquara.

- Aqui está Nosso Senhor, agora quero ser grande.

- Calma Candimba, tens que me fazer mais outra tarefa. Tens que trazer leite de Dona Leoa.

Dona Leoa era como era conhecida a onça pela mata. A danada tinha acabado de ter uma ninhada de oncinhas e não era esperto chegar perto da mãezona feliz.

A Candimba engoliu em seco. E agora? O que faria?

- Tá, eu trago.

E saindo foi pra casa pensando.

Passaram alguns dias até que ela teve enfim a idéia. Pegou o copo e os cipós e foi para perto da casa de Dona Leoa.

- Me marraaAA primeiro! Ah me MARRAAA PRIMEIRO! – Ela dizia a plenos pulmões em uma vozinha desesperada. – Me Marra primeiro, me MarrAA…

A onça preocupada com a cria foi ver que desespero era aquele. Nenhum animalzinho chegava perto o suficiente dela, era pedir pra ser o seu almoço.

- Que foi Candimba?

- Ah dona Leoa, me marra primeiro – dizia correndo de um lado pra outro com o cipó na boca. – Me marra primeiro.

- Marrar?

- Vem vindo uma tempestade que vai levar todos os animais com o vento. Me marra dona onça nessa árvore grande. Me marra!

- Não dona Candimba, me marre a senhora primeiro, não quero que o vento me leve – A onça disse caindo no falso desespero da Candimba.

- Não dona Leoa, me marre a senhora primeiro.

- Ora, se a senhora não me amarrar eu é que vou matar a senhora – A onça disse esperta para que a Candimba a amarrasse.
Ela obedientemente a amarrou bem apertado com o cipó e tirou o leite da onça, deixando a matreira ali de castigo no sol enquanto levava o leite pra nosso senhor.

- Aqui nosso Senhor! – ela disse feliz consigo mesma.

Nosso Senhor sorriu com a danadinha, mas ainda havia mais uma coisa.

- Tens ainda que me fazer mais uma tarefa.

- Mas.. Eu já fiz tudo – a bichinha dizia inconformada.

- É a última tarefa Candimba. – ela assentiu conformada – Quero que encha essa gaiola de periquitos.

Nosso Senhor entregou uma gaiola três vezes maior que a Candimba e esta levou, arrastando, empurrando com muito esforço até o pé do aguaçuzeiro.

Ficou ali embaixo esperando que anoitecesse e o bando de periquitos viesse dormir.

Não tardou e ao anoitecer os periquitos chegaram fazendo algazarra e festa no ninho para passar a noite.

- Ahh não enche... Enche! Não, não dá. Mas será?...

Ela começou a conhecida cantiga que pegara a sucuri. Os periquitos muito curiosos como ele previra vieram perguntar o que era aquilo.

- É que eu disse pra dona Leoa que todos os periquitos do aguaçuzeiro não encheriam a gaiola. Eu acho que ganhei a aposta – ela dizia contente.

- É claro que enchemos – os bichinhos retrucavam – Além de belos somos muitos.

- Eu acho que não…

E dizendo isso o bando de periquitos danou a entrar pela portinha, não couberam periquitos e a Candimba feliz fechou a gaiola e foi caindo e levantando pelo caminho levar os periquitos para Nosso Senhor.

- Está aqui Nosso Senhor, quero ser grande agora.

Nosso senhor admirado da esperteza de um bichinho tão pequeno diz:

- Tome Vergonha Dona Candimba, se a senhora pequenininha desse jeito é capaz de aprontar desse jeito, imagina se eu lhe der altura!

E ralhando puxou as duas orelhas da candimba e a mandou embora.

É por isso que a candimbá é pequenininha e com um orelhão. Por que foi castigada por nosso Senhor por querer demais.