Simplesmente lindo, como a mais bela amizade

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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Carta para o vento





A um tempo atrás eu talvez achasse que sabendo todas as respostas, eu conseguiria viver e sair-me bem da situação que com tanto empenho eu decorei das páginas dos livros.
Ainda me lembro como se fosse hoje, da pequena garotinha que sonhava em um dia crescer, se formar e trabalhar. E que sendo assim feito, seria imensamente feliz. Sonhar era tão essencial que a cada vez que adormecia e acordava, era o mesmo que tocar com os pés na nuvem fofa e branca de que eram feitos os céus.
Era a viagem sem fim, a terra do nunca e os contos de fadas que ela decorava avidamente das páginas dos livros que lia e relia milhares de vezes. Imaginando como em um mundo tão grande poderia ainda haver tanta discórdia e sofrimento, se a vida era tão simples, se as soluções estavam a sua frente e na de todas as pessoas ao seu redor.
Tristeza se curava com um sorriso, doença se curava com um abraço apertado e um beijo na face. E não havia melhor coisa, melhor sensação, do que aquela vinda de um abraço de urso que tirava-a do chão e que a fazia explodir em gargalhadas. Mesmo quando alguém se ia para sempre, ela ainda sabia que a pessoa jamais se ia… Continuava para sempre no coração de quem a amava e que Deus cuidava na sua bondade e compaixão de cada filho que partia para morar ao seu lado.
Um dia era o dia para fazer tudo o que ela quisesse. Correr, pular, subir em árvores, conversar, gargalhar, fazer alguém sorrir… Era todo dia o que desejava fazer e era o que fazia-a dormir rapidamente a cada noite.
Os anos passaram tão rapidamente, roubando algo que ela jamais poderia cobrar ou pegar do tempo novamente. Lembranças vividas e que foram esquecidas com o passar dos anos… Quem ela era ainda estava ali, mas quem ela um dia fora ela de alguma forma sabia que essa estaria guardada para sempre apenas no seu coração.
Os livros continuavam a encanta-la, histórias bobas, intrigantes, que a faziam rir ou mesmo querer chorar com o sofrimento de cada personagem que personificava na própria alma… Os livros e suas histórias tomaram parte em um lugar importante dentro dela mesma, um lugar que talvez ela ainda não soubesse, mas que criava a cada dia uma história própria que crescia lentamente de dentro para fora.
Os anos gentis continuavam. O vento trazia sabores e nomes a coisas que ela conhecia e que apenas tomavam forma em um universo novo que se desenhava a frente. Cada estação trazia algo e levava com o seu fim um pedaço daquela garotinha que tal qual lagarta se desabrochava a cada dia rumo a metamorfose que a mudaria e que marca a vida de cada pessoa a todo segundo no planeta.
Um dia o vento a assoprar brevemente sobre o cortinado da sua janela lhe mostrou o que era esperança, lhe mostrou o que esse pequeno sopro que acariciava o coração era capaz de fazer e o que podíamos conseguir plantando-a e semeando-a na mais tenra idade, e no que seus frutos eram capazes de modificar por toda uma vida.
Apesar de um dia ou outro encontrar uma pedra, de levar um tombo e tropeçar, ainda assim aquela esperança insistia que ela deveria persistir. Insistia que para cada passo errado e caminho duvidoso sempre podia levantar-se novamente e tentar.
O vento insistente trouxe ao correr do tempo, brisas, ventanias, vendavais. Cada qual a seu tempo e com cada sopro de vento uma nova pessoa a se moldar, nem percebendo que o passar dos anos empurrava aquela esperança mais e mais para o fundo do imenso e belo jardim que se formava na sua alma.
Um dia a tempestade se abateu forte e imprevista, trazendo desconfiança e medo. E hoje ela talvez soubesse que toda a inocência da infância se fora no dia que os medos tomaram conta de parte das suas noites e que haviam tomado forma e alcançado mesmo os seus dias.
O mundo não era tão fácil como antes parecera e ela aprendeu que precisava construir muros sobre coisas que ela queria ainda resguardar. Mesmo a própria vida precisava de segurança onde tudo o que imperava a sua volta era: medo, desconfiança e discórdia.
Todos podemos mudar o mundo. Todos podemos cada um fazer a sua parte. Pequenas ações que modificassem a vida de alguém poderiam transformar aos poucos o coração de quem se perdeu no caminho do medo.
A vida era por um tempo resumida na fé de que compaixão e doação poderiam mudar a realidade de alguém. Uma palavra amiga, um gesto de carinho sem querer nada em troca era o que aquecia o coração de uma jovem que ainda vivia parte da alma de criança que ela fora um dia.
Pensava nessa época que o amor era apenas vontade de vive-lo, era de fato fazer senti-lo nas pequenas coisas e acontecimentos. E era difícil cada vez que errava me deparar com a culpa pelo erro e ter que manda-lo embora…
Uma luta diária se travava. Uma luta por vencer as barreiras que haviam sido criadas como proteção através do tempo… Nada no mundo seria capaz de explicar-me o que era amar de forma desinteressada e sem medidas se eu mesma não houvesse sentido esse amor na própria pele.
É por isso que ainda acredito que vale a pena ter esperança, que vale a pena acreditar nas pessoas e que mais que tudo: ainda se pode amar mesmo que a pessoa a quem devotamos amor não corresponda o que de graça ofereçamos.
Mas que mesmo essa crença poderia acabar destruindo a pessoa que nos tornamos, se a fé não se alicerçar na vida, sem a fé a crença desse tipo de amor é nula e acaba por destruir na primeira desilusão, ao primeiro fracasso, o fiapo de esperança que ganhava força inicialmente.
Os sentimentos que o vento irremediavelmente trouxe, por vezes fazem fraquejar, por vezes nos derrubam e machucam, mas eles são apenas o reflexo do que nossas atitudes são capazes de modar em nós mesmos.
Quando eu fosse me apaixonar eu seria toda e qualquer menina que vive esse sentimento. Mas ainda assim eu poderia mandar ainda na pessoa que eu seria nesse dia.
A paixão não nos separa da pessoa que somos de verdade. E aquela garotinha que eu fui um dia talvez me deu a resposta que eu mais precisava naquele instante. Não havia sofrimento que durasse pela eternidade, exceto aquele que quiséssemos impor a nós mesmos…
E se decidindo continuar eu jamais esquecesse? Naquele momento eu saberia então que aquela paixão era na verdade amor… E amor mesmo que não correspondido era libertador e me tornava capaz de amar cada dia mais e me libertar dos meus medos…

Um comentário:

  1. O Tempo muda as pessoas, o amor transforma-as e os sonhos fazem as pessoas subir ou cair. Porém o resultado final depende sempre de cada um.

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